Jesus para meu filho
“Paulo Francisco, meu filho, é estudante de filosofia na Unesp de Marília. Ele estava curioso sobre a frase de Jesus na cruz, “pai, por que me abandonaste?” Resolvi presenteá-lo com essa narrativa abaixo.
Olha Paulo Francisco Martins a frase “pai por que me abandonaste” é uma frase corajosa. Ela dá um tom de veracidade ao ocorrido com Jesus. Não um tom de veracidade objetiva somente, mas também de veracidade quanto à construção do eu de Jesus.
Essa construção começou efetivamente quando ele, ainda pré-adolescente, fugiu para a Sinagoga e, depois, quando ele enfrentou o seu gênio interior, seu daimon, nos quarenta dias no deserto. Nesses dois momentos, ele abandonou o pai. Na Sinagoga, disse aos seus pais que ele estava na “casa do pai” – um pai que não era José. No deserto, contra os ensinamentos do pai e da família (postos pelo seu daimon, seu gênio, em contraponto), ele decidiu ser o Cristo e não mais Jesus. Também aí houve a escolha de um novo pai. Essa negação de José por Jesus, duas vezes, é o “Édipo de Jesus”. Ele se transformou no pai.
Na cruz, o sofrimento o fez colocar em dúvida essa transformação: ali ele era o adulto, José não viria mais salvá-lo, ele havia se tornado o pai e, no entanto, ele mesmo, ali, como pai, como adulto, não conseguia mais ir até o fim – era uma carga muito pesada. Como ele mesmo já havia confessado antes: um cálice que talvez pudesse ser afastado. Afinal, não valeria a pena ter criado uma religião sem um auto-sacrifício tão duro?
No limite, Jesus sabia que não. Ele sabia que Cristo vingaria com ele, Jesus, uma vez crucificado – e somente com ele crucificado. Mas, é claro, quem de nós, por mais fanático de si mesmo que fosse, não hesitaria?
Tudo isso teria se perdido se Paulo não tivesse aparecido e dito que viu Jesus. Onde? Também no deserto! Do que Paulo fugia? Paulo fugia de si mesmo, talvez de seu pai dentro de si. (e se olharmos a história de Saulo, veremos que essa hipótese não é maluca!).
Bem, PF, é isso: os pais nunca abandonam seus filhos, são os filhos que, um dia, se livram dos pais. Resta sempre a dúvida se eles aguentarão o tranco de serem eles próprios seus próprios pais”.
Jesus Nosso Senhor, assumiu a ruptura entre a humanidade e Deus! Ele experimentou a ausencia de Deus na vida humana e assim restaurou a união com o Pai.